terça-feira, 4 de junho de 2013

To fit or not to fit, eis a questão, n'est-ce pas?




Eu nasci mineira, enraizada e arraigada por natureza. Até os meus vinte anos, nunca tinha pensado seriamente em deixar meu Belo Horizonte. Mas aí o mundo aconteceu e lá fui eu para São Paulo, que adotei e amei como se fosse minha. Viajei muito, dei umas passadinhas mais longas ali pelas regiões da Itália, depois lá pros lados de San Francisco. Treze anos depois, e eu precisaria de um navio pra fazer a mudança, dessa vez pra cidade luz. E agora, José? 

Eu, que sempre acreditei ser do tipo que criava raízes, preciso admitir que pertencer não é bem o meu negócio. Eu chego, eu amo, eu apreendo, eu aprendo, eu compartilho, mas não tenho mais ânsia de baixar âncora, muito menos de fixar bandeira. Let it go. Tanto repeti que talvez eu tenha finalmente introjetado o conceito.

A princípio, quando comecei a pressentir essa mudança, senti uma certa apreensão. Era uma angústia, um desamparo, era medo. Medo do novo, medo da mudança constante, das inúmeras e necessárias adaptações. Medo de estar sempre começando. Era o ser mineira com sotaque paulista, ou uma quase paulistana com sotaque mineiro. Era perder as referências em Minas sem ter realmente lugares aos quais eu pudesse me apegar em São Paulo. Era o tempo de poemas como esse aí de baixo. Era.



Paris, ainda mais que São Paulo, tem gente de toda parte. Você troca de idiomas tantas vezes no mesmo dia, que chega quase a lamentar que a ideia do esperanto não tenha dado certo. Mas eu não pertenço. I don't fit. E quem realmente pertence? Eu não quero pertencer. Eu não quero criar raízes, ainda que eu sinta algumas já se infiltrando terra adentro. 


Essa sensação de relativo isolamento é também um certo sentimento de liberdade. É preciso estar aberto ao novo. É preciso despir os olhos da maneira de olhar que nos ensinaram pra realmente ver. É preciso deixar de lado os atalhos e se embrenhar pelos precipícios do pensamento. Paris é um aprendizado, mas cada nova cidade, cada nova cultura também é ou vai ser. 




Pouco importa onde, o que importam são as pessoas. Aprender a amar e respeitar o diferente e exercitar a tolerância e a compaixão. Colocar-se lá, no lugar do outro. Mais do que mimetizar comportamentos, pra mim, integrar-se é admirar e apropriar-se da cultura, ou no mínimo reconhecê-la e respeitá-la. Proximidade e afinidades não se mede em metros ou se verifica no passaporte. 


Nós estamos todos só de passagem por aqui. Por Belo Horizonte, por São Paulo, por Paris, pela vida. E Agora, José? José, Para onde?

"follow your feelings, 
explore your sensations. 

blow in the window 
your biggest secret 
and let it go. 

to belong is not your way. 

pick your favorite book 
and burn it. 

'cause to belong is not your way. 

write your best poem 
in the sand. 
spend your time doing nothing 
and get paid. 
be a permanent tourist, a fake artist, 
a general specialist… 

yeah, to belong is not your way. 

look at everything, 
but never trust your sight. 
make your own rules: 
no expectations, 
no desires, 
no dreams, 
freedom. 

feed your imagination 
with fresh blood. 
create an odd clown, 
kill your fears, 
hide in nightmares. 

if they are monsters, 
what are we? 

and live! now! 
go and live 
'cause you are dying 
every single color or B&W day. 

choose the dark side, 
stay in hell with me. 
nothing is better 
than this silent music. 

get lost! 
or just stay here, 

and be another stranger in the night."

*Sobre esse poema, eu preciso dizer que, apesar de meu, ele não mais me representa ;)

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