quinta-feira, 8 de novembro de 2012


Toda primeira quarta-feira do mês Paris ainda faz soar suas sirenes de alerta.
Talvez para os Parisienses seja algo tão cotidiano que não desperte mais nenhum estranhamento.
Mas sobre nós, os outros, os forasteiros, os aventureiros, os passageiros, essa enorme população flutuante de Paris, uma sirene de guerra é uma sirene de guerra.
E é também um estopim para uma explosão de pensamentos. Isso me faz lembrar que em Paris é impossível não rever constantemente o passado, impossível não revisitá-lo.
Nas coisas mais banais, como o ranger do assoalho do parquet dos clássicos apartamentos parisienses. Eu não passo de uma recém chegada curiosa e nostálgica, mas cada dia mais eu percebo que Paris é realmente um presente que não pára de passar dentro de um passado que se conserva, que permanece, que não pára de ser e por onde todos os presentes passam.

sábado, 3 de novembro de 2012

Follow your feelings

follow your feelings, 
explore your sensations. 

blow in the window 
your biggest secret 
and let it go. 

to belong is not your way. 

pick your favorite book 
and burn it. 

'cause to belong is not your way. 

write your best poem 
in the sand. 
spend your time doing nothing 
and get paid. 
be a permanent tourist, a fake artist, 
a general specialist… 


yeah, to belong is not your way. 

look at everything, 
but never trust your sight. 
make your own rules: 
no expectations, 
no desires, 
no dreams, 
freedom. 

feed your imagination 
with fresh blood. 
create an odd clown, 
kill your fears, 
hide in nightmares. 

if they are monsters, 
what are we? 

and live! now! 
go and live 
'cause you are dying 
every single color or B&W day. 


choose the dark side, 
stay in hell with me. 
nothing is better 
than this silent music. 

get lost! 
or just stay here, 
and be another stranger in the night.

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Quando a poesia some no verso


eu não escolho a métrica,
nem o ritmo,
não faço as rimas. 
quando o nunca vira agora, 
quando a poesia some no verso, 
quando eu me perco no resto, 
eu saio por aí,
procurando com o telescópio, 
um elefante pra me levar.

Equinócio





celebra-se a festa das cores.
do nosso esconderijo sob penumbra
mansamente observamos
o espetáculo das luzes:
o mundo se ilumina 
apesar de nós.

quem poderia prever 
esse desenrolar?

essa calma 
que invade pelos olhos.

essa paz 
que abraça em silêncio
com os traços do novo.

um mar de estrelas pululantes,
seus rastos refletidos nas águas,
os pescadores de sonhos,
e os pequenos lumes voadores,
divinamente orquestrados:
passado, presente, futuro.

e, finalmente, 
eu te surpreendo
no sorriso sincero
tão esperado.

secretamente
eu ainda reconheço
nossas inquietações e medos.

mas daqui, desse novo porto,
recém descoberto,
eu posso te dizer, 
muito perspicaz, amor:
- os vagalumes são provas 
  do bom humor de deus

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Sobre o tempo



um dos grandes benefícios que a passagem do tempo nos traz é o entendimento da nossa própria essência. eu sou uma contadora de histórias. e o que me faz aquilo que sou foi muitas vezes a armadilha que me roubou horas, dias, meses ou até anos.

ser uma contadora de histórias significa ter a imaginação tão intensa quanto a percepção. ter uma vocação pra juntar peças, palavras, atos, acontecimentos, ou qualquer coisa, em elaborados enredos que desafiam até seus desejos mais íntimos. é poder viver muito além do que o mundo apresenta. é poder acrescentar, expandir ou recriar a realidade. e tudo isso pode render maravilhosas aventuras, curiosas histórias e romances arrebatadores, mas tem também o poder de ofuscar a clareza dos fatos e nos levar por caminhos de grande turbulência.

o tempo ensina, para aqueles dispostos a aprender, formas de manter a sanidade sem perder a criatividade, de distinguir de forma mais eficiente o que vem do outro e o que está apenas dentro da sua imaginação. essa linha divisória, muitas vezes embaçada por nossa visão particular, é essencial para nos manter em contato com o exterior. pois, ainda que tudo pareça mais interessante dentro da nossa versão do universo, tentar impor essa versão aos outros pode ser exaustivo e destruidor.

para me proteger dessa tentação, criei uma regra simples: tudo é uma invenção minha, até que se prove ao contrário. a princípio, todos os meus amigos são imaginários. todos os meus amores são platônicos. todas as minhas viagens são pela terra do nunca. o que não for assim, vai se provar diferente. porque aquilo que não é fruto da minha imaginação, tem vontade própria e, cedo ou tarde, me surpreende. 

e não há nada como se admirar com a realidade e descobrir-se, ao acaso, mais feliz que o planejado.