sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Boas festas e feliz 2011!


Agora e pra sempre,
a minha vida tem algo que é seu.
há dias, meses, anos
não importa a contabilidade dos minutos
nem a física dos meios.
porque independente do espaço e tempo que nos une ou separa,
nós somos parte de um mesmo pequeno mundo.
e só dentro dele a vida faz sentido.
porque é em você,
no seu silêncio tranquilo
ou na sua presença inquieta,
que sou capaz de reconhecer aquilo me diferencia,
que me faz significante e singular
nesse infinito de outros.
e é por você existir que eu agradeço
2010
2011
é quando o futuro vira agora.
onde moram os sonhos que nunca tivemos,
mas já começamos a imaginar.
os caminhos que nunca ousamos,
mas já planejamos cruzar.
as formas de amar que ainda não conhecemos,
e teremos que inventar.
é uma coleção de novos dias
pra recriarmos nossa história
dividirmos filmes, festas, sorrisos,
dores, raivas, trabalhos e segredos.
dias imensos e noites inteiras
de um ano que será
aquilo que fizermos dele.
que a sorte conspire a favor
e que o façamos pleno,
sem penar, sem pesar e sem temer.
Cada dia como nenhum

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Muito melhor que a ficção

Sobre a maternidade, as mudanças e os amigos

A maternidade muda tudo. Muda a forma como você vê o mundo e interage com ele. E muda a forma como o mundo vê você e se relaciona com esse seu novo momento. As mudanças estão por toda parte: na lista de compras, na organização da geladeira, na rotina, nos horários, nas prioridades, nas presenças e nas ausências.

Por mais que você soubesse que essa mudança iria acontecer, ela vai surpreender. Ela vai pegar você pelo pé e vai sacudi-la até você ficar tonta. Não tem como estar preparada. Assim como não tem como não assimilar tudo isso, mais cedo ou mais tarde.

A maternidade tem o poder de apurar. Só fica quem for capaz. E muitos ficam, se modificam conosco. Uns viram tios e tias. Alguns nos dedicam um cuidado ainda mais especial. Outros continuam sendo exatamente como sempre foram. Há amigos de todos os tipos. E eles fazem muita diferença nesse momento. Conte com eles e conte pra eles, porque muitas vezes eles não sabem muito bem quando podem aparecer e participar.

A maternidade também tem o poder de renovar. Novas sensações, hábitos, valores, razões e novas amigas e amigos passam a habitar essa parte recém inaugurada do seu universo.

É claro que no novo, não cabe todo o velho. Mas, muitas vezes, a escolha nem é sua. Tem sempre aquele amigo ou amiga que desaparece depois do parto. É o tipo “pariu, morreu”. Toda mãe tem um caso assim pra contar. Contar, arquivar e esquecer! Porque há muita coisa nova pra ocupar esse espaço, que dirá esse tempo.

Ninguém está dizendo que você vai gostar de tudo. Na verdade, você não vai. É preciso abrir mão de coisas que você considerava divertidas. E, a princípio, você vai achar que está tudo de pernas pro ar na sua vida. Talvez realmente esteja, mas você vai ver que, depois de um tempo, tudo volta a sua órbita natural sem grandes esforços. E quando você menos imaginar, já terá um novo estilo de vida pra chamar de seu. E não há nada mais delicioso que essa sensação de reconstrução. Você, seu BB, sua família e seus amigos dentro da bolha que vocês juntos foram capazes de reinventar.

domingo, 12 de dezembro de 2010

Uma estranha história de amor

Quando o gato atravessou as grades da janela hoje, trazia um passarinho morto na boca. Sentado na mesa da cozinha, eu tomava meu café amargo. O velho Tom costumava dizer que de doce bastava a vida. Pessoa otimista. Eu acredito que tenha apenas me acostumado com o gosto dela: tudo que é doce me embrulha o estômago, me causa náuseas. Mas não a cena do bicho na boca do gato.

Era quase um espelho. Eu também já estive preso numa boca qualquer. Agonizei entre os dentes que me rompiam o pescoço. E insisti em sobreviver, como o pássaro que ainda se debate sobre o parapeito da janela sob os olhos cuidadosos do bichano. Pensei: e se ele conseguisse escapar? Talvez, ao contrário de mim, não chegaria a fugir. Talvez tenha se entregado ao gato em sacrifício. Pra mim estava claro, era um típico caso de amor, entre o pássaro e o gato.

Por isso, me recuso a andar até a janela e interromper o ritual. Minha intervenção ali seria inútil. Volto para o meu café frio e meu jornal. Às vezes, não há nada melhor que um parapeito e os olhos de um gato guardando você e suas feridas. Eu preferia ter morrido assim. Deixo a ave cumprir o destino que escolheu. Menos nobre, eu também sigo o meu.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Testamento

Dôo, para quem conseguir levar, minha coleção de nuvens em formas variadas, uma pilha de tratados sobre nada, uma biblioteca inteira de livros ainda não escritos e um saco de saudades com recheio de quero-mais.

Deixo, pra quem quiser, meus relógios sem ponteiros, meus discos de silêncio, minhas telas em branco e meus filmes mudos, mas também cegos.
Tenho ainda para ofertar meu gato imaginário e o elefante que me leva pra passear nos sonhos que eu nunca tive, mas devo advertir, são tipos que exigem muitos cuidados e horas imensas de atenção.
Listo também meus pequenos pertences: um sapatinho boneca de verniz sem par, um bloco de bilhetes para tele-transporte, uma lembrança da visita à terra do nunca e o diário de bordo da viagem ao centro de mim.
Pro alto, eu jogo os meus bens mais queridos, a minha insanidade crônica, a lucidez relativa, minha loucura permissiva, a falta de lógica e a intensidade diária.
E tendo concluído esse testamento sem propósito, eu firmemente asseguro que o fiz de espontânea vontade e muito boa fé.
um dia achei que a terra
era pequena demais

mas cada metro de pessoa
guarda tantos mundos,
que um universo inteiro
está sempre ao alcance de nossas mãos.