terça-feira, 11 de junho de 2013

Alugar apartamento em Paris: a odisséia - parte 2

Decifrando a linguagem dos anúncios



Quando você começar a sua busca vai se deparar com expressões e abreviaturas que podem comprometer o entendimento do que está sendo realmente anunciado.


As siglas com F (função) , T (tipo) e, às vezes, P (piéce, ou cômodo)

Para descrever os imóveis utiliza-se normalmente uma dessas letras seguidas do número de cômodos que do imóvel sem contar banheiro, lavabo e cozinha:
-  Estúdio (Studio) (raramente utiliza-se F0, T0, P0): um cômodo servindo de quarto, com uma pequena cozinha integrada e um banheiro
- F1, T1 ou P1: uma sala de estar (que é quarto / sala de estar), uma cozinha e um banheiro.
- F2, T2 e P2: um quarto, uma cozinha, um banheiro e uma sala de estar / jantar.
- F3, T3 e P3: dois quartos, uma cozinha, um banheiro e uma sala de estar / jantar.
- F4, T4 e P4: três quartos,  uma cozinha, um banheiro e uma sala de estar / jantar, mas pode ser também um dois quartos com duas salas separadas.

As palavras "bis" após o número indica que um dos quartos é grande o suficiente para ser dividido em duas partes mas não há atualmente nenhuma partição. 



Abreviaturas e expressões importantes

Appt/Appartement: apartamento
Part./Particulier: direto com o proprietário
Prop./Propriétaire: proprietário
Loc./locataire: Quem aluga o apartamento, inquilino
RDC/Rez-de-Chaussée: É o nível da rua, térreo
Étage: Piso ou andar
1er étage: Primeiro andar depois do térreo, é preciso notar que como o pé-direito é bem alto, fica normalmente um pouco mais alto que o primeiro andar brasileiro.
Ss asc/sans ascenseur: sem elevador, muito comum por aqui, mas às vezes nem é anunciado, o mais comum é anunciarem ac asc/avec ascenseur. Se não falar nada, desconfie da ausência dele!
Ch/Chambre, CC/Chambre à coucher: Quarto
Chem./Cheminée: lareira, nem sempre funcional.
Pr/proche: próximo
HC/hors charges: excluindo taxas relacionadas como o imóvel, é como se o condomínio fosse à parte. O problema nesse caso é que o valor das taxas podem variar muito de mês para mês, no inverno por exemplo devido ao aquecimento, fica difícil fazer um bom planejamento e podem aparecer surpresas desagradáveis.
CC/charges compris, TCC/tous charges compris: taxas relacionadas ao imóvel incluídas, é como se o condomínio estivesse incluído no preço, é importante entender quais as taxas estão realmente incluídas no preço, normalmente taxa de aquecimento (quando central), gaz e água (quando não são individualizados), taxa de lixo.
Dépôt de Garantie - depósito que se faz ao proprietário na entrada, normalmente equivale a um ou dois aluguéis e vem descrito no anúncio.
Frais/Commission de agence - valor a ser pago à agência também no momento da assinatura do contrato.
Duplex: alojamento em dois pisos, com escada interna para acesso à habitação
Triplex: alojamento em três andares com escada interna para acesso à habitação
Souplex: piso térreo e cave
Loft: grande espaço aberto, com praticamente nenhuma partição.


Sobre os banheiros

Na França, os banheiros são quase sempre divididos em duas partes. A área de banho e o toilette, ou privado. Então, normalmente, quando eles dizem que o apartamento dispõe de duas salas de banho e um toilette, não espere que o imóvel tenha três banheiros completos. Apartamentos com mais de um toillete não assim tão comuns por aqui.

SDB/salle de bain: é uma área de banho com uma banheira
SDD/Salle de duche, SDE/salle d’eau: é uma área de banho com um chuveiro
WC/Toilette: privado com, possivelmente, uma pia.


Sobre a Cozinha

Cuisine meublée: Cozinha tem armários mas não tem equipamentos, isso porque aqui é comum, em apartamentos "vide", a cozinha pode estar sem absolutamente nada, apenas a pia e as instalações de água e gaz, o que não acontece no Brasil.
Cuisine équipée: cozinha é mobiliada e possui os equipamentos básicos, como refrigerador, fogão e forno (os equipamentos podem variar)
Cuisine separée: a cozinha é um cômodo à parte, completamente separada da sale de jantar.
Cuisine américaine: cozinha aberta para a sala de jantar.
Cuisine dinatoire: cozinha que possui uma mesa de jantar.


Sobre as salas

Salle de séjour/ Séjour: área comum, sala
Salle à manger: sala de jantar
Salon: sala de visitas e de jantar
Terrasse: Varanda ou terraço
Balcon: normalmente uma varanda estreita e sem espaço para móveis


Outras dependências possíveis

Cave: área de depósito normalmente no subsolo do edifício.
Chambre de bonne: quarto separado, normalmente no último andar do edifício, originalmente para uso de funcionário.

Ver também:
Alugar apartamento em Paris: a odisséia - parte 1: Como e onde procurar

segunda-feira, 10 de junho de 2013

Comer melhor comprando direto de quem produz





Esse final de semana eu descobri um projeto muito interessante e até já aderi. O nome é "La ruche que dit oui"e a idéia é comprar produtos diretamente de produtores locais, sem passar por intermediários. Conhecia já alguns serviços de entrega de cestas de produtos Bio (orgânicos), mas muitos não permitem que você escolha o que vai receber, o que sinceramente não me agrada.

Mas nesse caso, é quase como se você estivesse fazendo suas compras no mercado local ou em uma pequena loja, você escolhe tudo online e tem um local e dia para retirar os produtos, na sua colméia. Você pode apenas passar e pegar as suas coisas, que vão estar embaladas te esperando, ou pode conversar com os produtores e outros membros, além de experimentar alguns produtos.

O processo também é simples, o site é claro e fácil de usar (coisa rara em se tratando de sites franceses). Você entra no site http://www.laruchequiditoui.fr/, cria seu perfil e, em seguida, escolhe a colmeia mais perto da sua casa ou a que você acha mais prática. A partir desse momento, você pode ver os produtos disponíveis para venda em sua colmeia e escolher se quer comprar e quais os produtos que você precisa.

Na colméia que eu decidi fazer parte pode-se encontrar frutas e verduras, pão, queijo e produtos lácteos, carnes, sucos de frutas, compotas, terrines, cosméticos bio entre outros. Tudo vendido diretamente pelos produtores. Além de ser útil, é também muito saudável, ecologicamente correto além de ser um projeto de comércio 'équitable' (ou seja, o produtor recebe um preço justo pelo seu produto).

É preciso lembrar também que em se tornando membro você não assume nenhum compromisso imediato. No mais, você vai comprar o que quiser e quando quiser.

E se não houver uma colmeia na sua região e você gostar muito da idéia, você pode até decidir abrir uma você mesmo. Está tudo descrito lá no site.

A colmeia que eu conheci ao vivo e em cores foi a do Comptoir Général no 10éme, funciona aos sábados e é super agradável. Acabei me associando a uma outra mais perto da minha casa, vamos ver se o clima é tão simpático e descontraído quanto essa.












sexta-feira, 7 de junho de 2013

Alugar apartamento em Paris: a odisséia - parte 1

Como e onde procurar



Todo mundo sabe que alugar apartamento em Paris é uma novela, nem sempre com final feliz. Esse assunto, na verdade, merece não um post, mas um livro! É tanta coisa pra ser dita que fica até difícil começar. Então, antes de mais nada, que fique claro que o que eu vou escrever aí embaixo é fruto da minha experiência pessoal. Talvez você não vá ter a mesma impressão depois de ter alugado o seu apartamento, mas pelo menos é um começo. 

Na minha opinião, a melhor forma para alugar apartamento é utilizar a internet mesmo. Ainda que algumas pessoas tenham muito boas experiências visitando as agências imobiliárias próximas a área que que querem morar. Dependendo do tipo de imóvel que você procura isso faz mais sentido ainda, porque imóveis menores são alugados muito rapidamente, e muitas vezes nem chegam a ser cadastrados nos sites. 

 Se você quiser visitar as imobiliárias, escolha a região alvo no Google Maps e digite "agence immobilière" e você vai visualizar todas as agências naquela área, aí é só visitar. Antes de ir, tire um tempo para colocar num papel o que é que você realmente quer: 
 - Use um mapa para selecionar sua região de interesse, porque muitas vezes você se interessa apenas por uma parte de um arrondissement e não por outra, assim fica mais fácil visualizar e explicar. 
- O que é realmente essencial para você num apartamento, aquilo do que você não abriria mão: número de quartos? metragem? número de banheiros? elevador? 
- Seu budget: quanto você gostaria de pagar e até quanto você estaria disposto a chegar. 
- Uma descrição geral do imóvel que você precisa, com metragem, número de quartos, garagem, elevador, ou seja, tudo o que você sabe que gostaria de ter. 

Mas, eu como sou uma nerd assumida, optei por uma busca virtual. Existem vários tipos de sites indicados nesse caso, vamos a eles. 

Sites imobiliários aglutinadores como o http://www.seloger.com/ ou o http://www.explorimmo.com/. Esses sites funcionam como uma vitrine para as imobiliárias que divulgam seus imóveis ao público. Eu sempre gostei mais do Seloger do que do Exploimmo mas ainda hoje ouvi de agente imobiliário que para locação o Exploimmo é melhor. Então, vale a pena testar os dois. Nesses sites você pode criar alertas com as buscas para os perfis de imóveis desejados e, assim, receber sempre as novidades que aparecerem, o que eu vivamente aconselho. Ainda que você vá precisar ir até o site para dispensar o serviço quando conseguir seu apartamento ou vai continuar recebendo os e-mail infinitamente.

Algumas agências são muito interessantes para aluguel de apartamentos mobiliados. As que eu mais usei para buscar o nosso apartamento provisório foram http://www.lodgis.com/pt/ e http://www.parisattitude.com/. Existem muitas outras como: http://www.parisstay.com/, http://www.privates-homes.com/paris, http://www.guestapartment.com, conhece alguma?

Há também o http://www.pap.fr (de particulier à particulier). Você aluga diretamente do proprietário sem passar por uma agência. Amigas que não possuiam um dossier de locação muito rico, isso quer dizer, que não possuiam um perfil muito favorável (eram estudantes, não tinham 'fiadores' ou algo assim) relataram uma experiência melhor alugando diretamente do proprietário do que passando pelas agências. Além do que, nesse caso, não existe a taxa de agência que pode ser alta. 

Já li e ouvi experiências positivas e negativas com todo tipo de agência. Existem alguns cuidados importantes a tomar para tentar minizar as surpresas ruins, como uma boa visita de inspecção ou état des lieux. Mas isso é assunto pra outro post.

O que ainda há pra falar sobre a saga do apartamento em Paris:
- como ler os anúncios, o que significa CC, CH, TTC;
- onde morar, os bairros ou os arrondissements de Paris;
- qual a diferença entre os tipos de aquecimento, diferenças de contratos: apartamento vazio (vide) e apartamento mobiliado (meublé);
- caução, visita de inspecção (ou o dito "état des lieux") e devolução do caução ou depósito de garantia.


Ver também:

Alugar apartamento em Paris: a odisséia - parte 2: Decifrando a linguagem de um anúncio

quinta-feira, 6 de junho de 2013

A didatura, a tortura e a memória




Quando eu nasci, nosso país já estava mergulhado na ditadura e só foi conseguir se livrar dela vários anos mais tarde, tantos que eu me lembro de ver algumas imagens do processo. Eu lembro de ouvir tocar "Coração de estudante" e estranhamente me emocionar, mesmo sem saber exatamente o que estava acontecendo.

Eu acabei de ler o depoimento da cineasta Lúcia Murat* sobre sua prisão e tortura no Doi-Codi e mais uma vez esse tema se revira dentro de mim. Eu tenho um tio que foi morto pelos militares durante a ditadura, um tio que eu na verdade não conheci, assim como não conheci outros tantos que morreram com ele, mas que eu admiro e respeito demais. Pode parecer estranho, mas é possivelmente meu tio mais querido. É certamente o que mais me ensinou. Disso não tenho dúvida.

Quando leio sobre a ditadura e as torturas, leio como se fossem todos meus tios e tias. Porque eles eram todos meus iguais, jovens lutando por um ideal. Lutando por liberdade, pela minha, pela sua liberdade. Lutando para que eu um dia pudesse dizer tudo o que eu penso sem ser igualmente presa e torturada.

Lendo as atrocidades que esses desumanos militares praticaram, minha boca seca, meu estômago se revira, meu sangue ferve. Porque eu sou humana. E eu não canso nunca de falar desse assunto. Porque é preciso lembrar, para evitar que tudo aquilo se repita. E eu tenho muito nojo e um pouco de medo quando ouço pessoas dizendo que sentem saudade desse período ou fazendo apologia a ele de alguma forma. Em que planeta essas pessoas estavam e estão?

Quando eu leio um depoimento como o da Lúcia Murat, eu tenho certeza que ninguém merece passar por isso. Muito menos aos 22 anos. E ela não foi a única. Nem mesmos eles, os torturadores, mereceriam ser submetidos aos horrores que eles repetidamente praticaram.

Outro dia ouvi uma alta patente dizer que só se escuta a versão deles, e por "deles" ele quis dizer dos torturados (imagino que ele não fazia referência aos assassinados nesse caso). Eu sinceramente adoraria ter ouvido ou ouvir a versão dos torturadores, devidamente interrogados em processos adequados em que seus crimes estivessem sendo julgados.

Mas eu tenho também um desejo secreto, de colocar numa sala esses senhores e seus simpatizantes, para obrigá-los a ouvir junto com suas famílias, filhas, netas, todos esses depoimentos com riqueza de detalhes. Só para no final perguntar para eles:

- E a aí Coronéis? E aí simpatizantes e defensores da ditadura, e consequentemente das torturas e crimes a ela relacionados, e se fossem suas irmãs, suas filhas, suas netas? E se fossem as suas mulheres  queimadas, espancadas, achincalhadas, torturadas ou mortas por pensarem de forma diferente e lutarem para serem ouvidas?

E eu sigo acreditando que NENHUMA ditadura se justifica, absolutamente nenhuma.

*Leia aqui o depoimento completo da cineasta.

quarta-feira, 5 de junho de 2013

Mitos sobre a França e Paris

Existem muitos mitos sobre a França, sobre Paris e sobre os Parisienses. São coisas que sempre ouvimos no Brasil e nem sempre correspondem à realidade. 


Les carafe d'eau de la ville de Paris

Até a água é cara em Paris: Qualquer restaurante ou similar em Paris é obrigado a servir aos frequentadores uma garrafa de água gratuita. Mas em lugares muito turísticos, os garçons costumam oferecer às pessoas uma "bouteille d'eau" antes de trazer a "carafe d'eau". Qual é a diferença? A "bouteille d'eau" é a água mineral em garrafa e é paga. A "carafe d'eau" é a água potável da cidade de Paris, ou seja, água da torneira cuidadosamente acondicionada numa garrafinha fofa. Bom, é preciso dizer que aqui eles levam muito à sério a questão de qualidade da água (leia um pouco aqui http://www.eaudeparis.fr). Então, se você não quiser pagar pela água, basta fazer o seu pedido e acrescentar no final "Et une carafe d'eau, s'il vous plaît".


A loja de departamento mais chique de Paris é a Galeria Lafayette: Eu não sei se um dia isso foi uma verdade, mas a Lafayette hoje em dia é basicamente um ponto turístico. Os parisienses chics e endinheirados costumam frequentar uma outra loja de departamento, do outro lado do rio, chamada "Le Bon Marché"(http://www.lebonmarche.com/).



Services
Le Bon Marché

Porções pequenas: Eu não faço idéia de onde surgiu essa idéia, mas as porções francesas são muito generosas! É claro que quando você vai a um restaurante estrelado Michelin, e o menu tem 7 ou 8 pratos, as porções são menores sim, para que seja humanamente possível chegar até a sobremesa.

O melhor "macaron" é o da Ladurée (http://www.laduree.fr): Discordo. Não que seja ruim. É bom mas não é o melhor que já comi. Das grandes marcas, considerando Fouchon (http://www.fauchon.com), Lenôtre (http://www.lenotre.com), o que eu prefiro é o Pierre Hermé (http://pierreherme.com). Os macarons dele além de sabores mais criativos e inventivos, são crocantes ao mesmo tempo que macios e vem com mais recheio que os demais. Agora, considerando todos, e levando tudo em conta, o "macaron" da La Petite Rose, uma pequena e despretensiosa patisserie e boulangerie ao lado do Metrô Villiers, é o melhor. (https://plus.google.com/101089899659628254302/about?gl=fr&hl=en).



O menos afetado e melhor 'macaron'

A comida francesa é muito boa: Posso dizer que frenquento muitos restaurantes aqui. (Sim, porque eu gosto de comer. Gosto muito.) Restaurantes de todos os tipos e em todas as faixas de preços: com meus colegas estudantes, os mais em conta, com a família no cotidiano, os normais, e com o marido, os mais legais. Só consigo me lembrar de dois restaurantes dos quais eu possa realmente falar mal da comida. Bom, um era na Disney, então é meio óbvio, não conta. O outro foi um restaurante que fui com os colegas de curso, numa região bem turística. Então, come-se muito bem na frança sim!

Ne pas de quoi: Lembro de ouvir muita gente responder um "Merci beaucoup" com um "ne pas de quoi" (nem é preciso lembrar também da piadinha infame que acompanhava a frase, né?). Mas eu nunca ouvi um único Francês usar essa expressão por aqui. Depois de um "Merci" ouvimos sempre um "De rien" ou um "Je vous en prie".


Francês fuma muito:  "Oui", sem mais. Quer dizer, se fosse só isso tudo bem, mas eles jogam a bituca no chão, ainda que isso possa render uma multa de 35€.


Precisa de legenda?

Francês é grosseiro: Brasileiros são bem menos polidos que os franceses. Aqui, qualquer pessoa, ao se dirigir à outra, diz 'Bonjour' antes de qualquer outra coisa. "Merci" e "Pardon" é o que mais se ouve pelas ruas e no metrô. Os franceses são menos subservientes que os americanos, é certo, e nas áreas turísticas um pouco ranzinzas, mas não são grosseiros. Nas lojas não esperem vendedores sorridentes e ultraprestativos, acontece, mas não é a regra. Eles fazem o trabalho deles mas não ficam bajulando ninguém. E algumas vezes são ligeiramente diretos demais, o que nos causa uma certa aversão à princípio. Mas é uma questão cultural, você se acostuma.


Le Petit Parisien, 1952, foto de Willys Ronis

Baguete debaixo do braço: Logo que cheguei por aqui vi uma cena sensacional de uma mulher falando ao celular com não uma mas duas baguetes debaixo do braço. Estava com o Roberval e com a Daniela e lembro que ele fotografou o momento. Queria tanto aquela foto, Roberval! (update: o Rober e a Dani mandaram a foto e eu acrescentei aí embaixo!) Mas depois desse evento inesquecível, nunca mais reparei em ninguém carregando baguetes assim. Mas, vez ou outra, as pessoas acabam mesmo acomodando a baguete assim pra pagar alguma coisa, mas não é bem debaixo do braço e não altera em nada o sabor, eu garanto.


A francesa e suas baguetes

Sobre o tão falado banho: É claro que no metrô vez ou outra você esbarra com uma pessoa com um cheirinho não muito agradável. Você já andou de ônibus ou metrô no Brasil? Bom, boa sorte, companheiro! A verdade é que gente "alérgica" à desodorante tem em todo lugar. Os franceses tomam banho, os que eu conheço são até muito cheirosinhos. Portanto, se você visitar Paris e voltar com essa impressão, eu recomendo repensar o roteiro para a próxima vez!

Alguém conhece algum outro que eu não tenha comentado?

terça-feira, 4 de junho de 2013

To fit or not to fit, eis a questão, n'est-ce pas?




Eu nasci mineira, enraizada e arraigada por natureza. Até os meus vinte anos, nunca tinha pensado seriamente em deixar meu Belo Horizonte. Mas aí o mundo aconteceu e lá fui eu para São Paulo, que adotei e amei como se fosse minha. Viajei muito, dei umas passadinhas mais longas ali pelas regiões da Itália, depois lá pros lados de San Francisco. Treze anos depois, e eu precisaria de um navio pra fazer a mudança, dessa vez pra cidade luz. E agora, José? 

Eu, que sempre acreditei ser do tipo que criava raízes, preciso admitir que pertencer não é bem o meu negócio. Eu chego, eu amo, eu apreendo, eu aprendo, eu compartilho, mas não tenho mais ânsia de baixar âncora, muito menos de fixar bandeira. Let it go. Tanto repeti que talvez eu tenha finalmente introjetado o conceito.

A princípio, quando comecei a pressentir essa mudança, senti uma certa apreensão. Era uma angústia, um desamparo, era medo. Medo do novo, medo da mudança constante, das inúmeras e necessárias adaptações. Medo de estar sempre começando. Era o ser mineira com sotaque paulista, ou uma quase paulistana com sotaque mineiro. Era perder as referências em Minas sem ter realmente lugares aos quais eu pudesse me apegar em São Paulo. Era o tempo de poemas como esse aí de baixo. Era.



Paris, ainda mais que São Paulo, tem gente de toda parte. Você troca de idiomas tantas vezes no mesmo dia, que chega quase a lamentar que a ideia do esperanto não tenha dado certo. Mas eu não pertenço. I don't fit. E quem realmente pertence? Eu não quero pertencer. Eu não quero criar raízes, ainda que eu sinta algumas já se infiltrando terra adentro. 


Essa sensação de relativo isolamento é também um certo sentimento de liberdade. É preciso estar aberto ao novo. É preciso despir os olhos da maneira de olhar que nos ensinaram pra realmente ver. É preciso deixar de lado os atalhos e se embrenhar pelos precipícios do pensamento. Paris é um aprendizado, mas cada nova cidade, cada nova cultura também é ou vai ser. 




Pouco importa onde, o que importam são as pessoas. Aprender a amar e respeitar o diferente e exercitar a tolerância e a compaixão. Colocar-se lá, no lugar do outro. Mais do que mimetizar comportamentos, pra mim, integrar-se é admirar e apropriar-se da cultura, ou no mínimo reconhecê-la e respeitá-la. Proximidade e afinidades não se mede em metros ou se verifica no passaporte. 


Nós estamos todos só de passagem por aqui. Por Belo Horizonte, por São Paulo, por Paris, pela vida. E Agora, José? José, Para onde?

"follow your feelings, 
explore your sensations. 

blow in the window 
your biggest secret 
and let it go. 

to belong is not your way. 

pick your favorite book 
and burn it. 

'cause to belong is not your way. 

write your best poem 
in the sand. 
spend your time doing nothing 
and get paid. 
be a permanent tourist, a fake artist, 
a general specialist… 

yeah, to belong is not your way. 

look at everything, 
but never trust your sight. 
make your own rules: 
no expectations, 
no desires, 
no dreams, 
freedom. 

feed your imagination 
with fresh blood. 
create an odd clown, 
kill your fears, 
hide in nightmares. 

if they are monsters, 
what are we? 

and live! now! 
go and live 
'cause you are dying 
every single color or B&W day. 

choose the dark side, 
stay in hell with me. 
nothing is better 
than this silent music. 

get lost! 
or just stay here, 

and be another stranger in the night."

*Sobre esse poema, eu preciso dizer que, apesar de meu, ele não mais me representa ;)

domingo, 2 de junho de 2013

Correio elegante do Metrô de Paris








Eu sou uma eterna romântica e uma fã de carteirinha (de passe Navigo, na verdade) do metrô de Paris. Mas todos que já andaram por aqui sabem que o mundo passa por ali.

Todos os dias são milhares de passageiros em trânsito, mais de 300 mil pessoas diariamente. Uma multidão que atravessa a cidade e compartilha o mesmo espaço sem se ver. Mas, às vezes, dois olhares se cruzam e algo inexplicável acontece. Até que as portas se abrem e um mundo surge entre os dois sem deixar chances.

Bom, pelo menos era assim, até que dois amigos resolveram criar, em 2008, um site de pequenos-anúncios de encontros do mêtro, um correio elegante, para tentar reunir essas pessoas cujos corações foram flexados entre uma estação e outra.

A idéia é simples: em alguns cliques a pessoa se registra, escreve seu anúncio, conta sua história, faz sua declaração e publica. Os anúncios são classificados por linha. E aí é só esperar que o outro usuário tenha sentido a mesma eletricidade e que vá buscar reencontrá-lo através do site. O procedimento é totalmente gratuito.

Eu achei fofo e inspirador!

http://www.croisedanslemetro.com/

Entre duas estações




Cabe tanto pensamento entre duas estações. Do momento em que a porta se fecha até a próxima parada, é como se estivéssemos em um hiato da dimensão espaço-tempo. Estamos nas veias da cidade, por onde transita tudo aquilo que precisa cruzá-la, por onde passa o que realmente dá vida à Paris.

A porta se abre, um grupo de crianças em excursão me tira do meu delírio. Com o burburinho típico, elas se deslocam de duas em duas, de mãos dadas, escoltadas por seus guardiões. Uma campainha depois e estamos de novo em rota. Um som familiar de acordeon ressoa pelo trem. La vie en rose: impossível não marcar com o pé o compasso.

"C’est toi pour moi, moi pour lui dans la vie
Il me l’a dit, l’a juré pour la vie"

Um casal me chama atenção. Eles beiram os oitenta e muitos. Pode ser "naif", mas meu coração se enternece, também quero ter um amor assim por toda a vida. Andar lentamente de mãos dadas pela cidade.

Parada brusca, entre e sai, empurra, empurra, a dança das cadeiras. Uma outra música invade o vagão. Caos. Reparo pra ver se o meu casal preferido conseguiu se abrigar da multidão. Lá estão eles, sentados lado a lado, de mãos dadas.

Perdemos o acordeon, mas o silêncio não dura. Uma mulher de postura curvada canta um lamento enquanto estende a mão à espera de moedas. Um grupo de adolescentes gargalha no outro extremo. O que nos separa e o que nos une? Para citar a mais básica de todas as semelhanças: estamos vivos e mais próximos da morte a cada dia.

Quando a porta se abre, um mundo entra e um mundo sai até que a passagem se fecha. Estamos de volta ao hiato. E se você se concentra, é capaz de estender a ponte e só voltar à realidade muitas paradas depois. Uma verdadeira viagem no espaço e no tempo.

Como eu disse, cabe tanto pensamento entre duas estações.