sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Testamento

Dôo, para quem conseguir levar, minha coleção de nuvens em formas variadas, uma pilha de tratados sobre nada, uma biblioteca inteira de livros ainda não escritos e um saco de saudades com recheio de quero-mais.

Deixo, pra quem quiser, meus relógios sem ponteiros, meus discos de silêncio, minhas telas em branco e meus filmes mudos, mas também cegos.
Tenho ainda para ofertar meu gato imaginário e o elefante que me leva pra passear nos sonhos que eu nunca tive, mas devo advertir, são tipos que exigem muitos cuidados e horas imensas de atenção.
Listo também meus pequenos pertences: um sapatinho boneca de verniz sem par, um bloco de bilhetes para tele-transporte, uma lembrança da visita à terra do nunca e o diário de bordo da viagem ao centro de mim.
Pro alto, eu jogo os meus bens mais queridos, a minha insanidade crônica, a lucidez relativa, minha loucura permissiva, a falta de lógica e a intensidade diária.
E tendo concluído esse testamento sem propósito, eu firmemente asseguro que o fiz de espontânea vontade e muito boa fé.

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